domingo, julho 01, 2007

Coisas que acontecem na Baía

- Sabe o que é que se está a passar aqui?
- Sim, é o campeonato mundial de vela.
- E sabe até quando é que é? Uma amiga minha vai chegar dos Estados Unidos e queria saber.
- Tem lume? Só começa na 3ª feira, mas vai até meio do mês. Porque é que tem uma guitarra?
- Sou músico. Passei aqui e pensei: se começar a tocar para esta miúda, pode ser que ela me caia nos braços.
- Não me parece.
- Como é que se chama?
- Vera. E você?
- Nuno.
- Não quer tocar qualquer coisa?
- Sim. Se não gostar pode gozar comigo, se gostar pode dar-me um beijinho.
- Também não me parece. Toca em algum sítio?
- Toco numa escola, num hospital e num lar de velhinhos. Não toco em sítios mais comerciais. Mas devia. Escrevi um livro, tinha aqui dois, podia dar-lhe um, mas dei agora a amigos meus.
- Também escreve? O quê?
- Sim, escrevo poesia. E também ilustro.

(Eu Sei que vou te Amar, Caetano Veloso)

- Porque é que estás sentada neste muro sozinha?
- Estou à espera de um amigo meu.
- Estou agora a vender um cd, também não tenho aqui nenhum. Ainda não percebi porque é que estás aqui sentada.
- Estou a trabalhar no campeonato, mas já me vim embora e agora estou à espera de um amigo meu. Se alguém atirar moedas, dividimos os lucros.
- Está bem.
...
- Vera, vou-me embora. Um dia encontramo-nos outra vez por aí.
- Adeus, obrigada pela música.
- Adeus.


E o Nuno foi-se embora com a guitarra às costas, o mesmo ar boémio com que apareceu, nas suas sandálias de turista e barba por fazer. Não sei se um dia o encontro por aí outra vez, mas a música dele ficou comigo até acabar de se pôr o sol.

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