Há alguns dias em que me apetecia ter assim um botão de desligar em que só eu é que podia carregar, e podia carregar sempre que quisesse, que ninguém ia saber. Se eu quisesse, podia passar o dia inteiro on-off-on-off etc, conforme me apetecesse.
Sempre que eu quisesse, ou que precisasse, gostava de poder desligar o meu coração, assim só um bocadinho, porque às vezes parece que ele está vazio e perdido, e depois ligá-lo outra vez quando há coisas que querem entrar e não conseguem - e depois quando entram, ocupam o espaço todo do coração e todo o espaço ao lado dele, e eu sinto-me pequenina demais para tantas coisas, parece que não cabem.
Nestes dias de ultimamente, em que quando saio de casa não sei se hei-de usar botas da chuva ou óculos de sol, em que chove ao mesmo tempo que faz sol e em que a luz fere os olhos mas nunca é suficiente, dava mesmo jeito esse botão que estou a pensar inventar. É que há dias em que essa chuva e esse sol que não se decidem entram dentro desse coração e trazem as coisas com eles, e eu não consigo decidir se aperto o casaco ou se prendo a camisola à cintura.
Há assim uns dias em que parece que o meu coração se transforma em pulmões e respira, ora fica muito muito pequeno e dói um bocadinho, ora fica cheio cheio e também dói, mas de outra maneira.
Quando é assim, gostava de poder sentar-me na bordinha do passeio, ouvir a música que inesperadamente está por ali, não pensar em nada nem sentir nada nem querer nada nem precisar de nada - como fiz hoje ali em cima.