terça-feira, outubro 30, 2007

Primeiro dia (noite) de aulas II

(Encontrão)
- Desculpe.
- Não faz mal.
(Segundo encontrão)
- Desculpe.
- Não faz mal.
(Risinhos)
- E como é que estão as coisas lá na tua universidAde?
- Estão boUas, as gajas são giras.
- E simpÁticas, são simpÁticas?
- Sim, dá para fazer amizades!
- Fazer amizades é brutAl!
- Podes crer! Acho mesmo engrAçado quando vais no metro e metes conversa com a miúda que 'tá ao teu lAdo!
- Pá, ya! Isso nunca me aconteceu, mas sempre pensei nessa cena!
- Pois é, é como diz a boUa educação, fEchas o livro e dizes olÁ!
(risinhos)
- Sim, fEchas o livro e dizes olÁ!
(risinhos)
A sequência de frases cretinas repete-se, acompanham-na gestos, risos risos e risos. Mas risos porquê?? A conversa é estúpida, incomoda quem está ao lado, e não vai levar a lado nenhum. A miúda que lê um livro ao vosso lado não vai fechar o livro nem dizer Olá! Está mais concentrada em tentar não ouvir a vossa conversa ridícula, ouve a música pesada e aos gritos no MP3 do miúdo que está à frente dela.
Uma pessoa acaba de ter cinco horas de aulas. Estatística, ainda por cima. São 23h30, uma pessoa está cansada, não lhe apetece ter de fingir que não vos ouve. Voltem lá para Rio Tinto ou Gaia ou Fafe de onde vieram e não me chateiem! Deixem-me ler o meu livro. Até podia ser uma réplica da lista telefónica, essa miúda não vai levantar os olhos do livro para vos dizer olá, porque já a chatearam tempo demais com essa conversa ridícula. Vai continuar a fingir que vocês não existem!
Aprendam: quando quiserem que uma miúda que lê um livro no metro vos diga olá, não falem um para ou outro, falem directamente para ela, senão estão a ser estúpidos e pouco inteligentes, ninguém quer dizer olá a um tipo com sotaque do Norte profundo que ainda por cima é pouco inteligente.

Primeiro dia (noite) de aulas

Metro Cidade Universitária.
Saída Hospital de Sta Maria.
Sempre em frente ao longo da Avenida Professor Gama Pinto.
Parada no sinal encarnado, à espera do verde.
Desconhecido do outro lado da estrada, à espera do verde.
Nada de especial chama a atenção por falta de óculos e dificuldades de visão nocturna.
Sinal verde.
Desconhecido giríssimo cheio de embrulhos nas mãos e Desconhecida pronta para as aulas de frente um para o outro, hesitação no meio da passadeira para escolher quem vai pela direita e quem pela esquerda.
Sorriso.
Sorriso.

sábado, outubro 27, 2007

Trabalho, procura-se!

Faço revisão e correcção de textos.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Retournée

Voltar a casa não é difícil.
Não é difícil quando tenho um abraço de Pai à espera no aeroporto.
Não é difícil se tenho a casa quentinha e cheia de flores. A Mãe à minha espera para falar. Os risos de sempre da minha casa. Sintra. Dormir em Sintra. Jantar com todas. Amigos que aparecem.
Não é difícil. É bom.
É bom estar numa casa onde não se consegue ler um livro sossegada. É bom uma casa que tem um sofá. Cortinas. Tapetes. Gente. Risos. Calor. Novidades novinhas em folha. Manas.
Tinha medo de chegar e ver que tudo estava na mesma. É bom chegar e ver que está. Menos eu.
Cresci.
Estou preparada para voltar para esta casa e esta família, que me abraça e que está em casa, mesmo quando não está.
Sinto-me segura no silêncio do sono dos quartos ao lado.
Não foi um fracasso. Não perdi nada.
Cresci. Tens razão, Marta, cresci.
Não consigo dormir, mas gosto de ouvir a Filipa na cama ao lado, gosto de saber que amanhã, mais cedo do que eu queria, vou acordar com o movimento da minha casa. A Minha Casa. É esta. Nunca foi um 5º andar vazio.
Paris foi bom pelo que foi e pelo que trouxe, mas esta é a minha Casa, aqui sou mais Vera.
Cresci, e posso voltar para casa, onde vão gostar mais de mim, estou melhor - vi o que não quero ser.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Medo

de cães
do escuro
de andar de carro à noite quando não tenho os óculos
de gente estranha na rua
de morrer
de ser atropelada
de ter um desastre e ninguém saber
de não poder ter filhos
de ter filhos
de palhaços
de nunca mais deixar de ter calor
de nunca mais deixar de ter frio
de fogo de artifício
de barulhos muito intensos no geral
de ser raptada
de enlouquecer
de falar em público
de vespas (não de abelhas, só de vespas)
de nunca mais conseguir dormir uma noite inteira
de não conseguir acabar uma coisa muito importante que comecei
de ver filmes de terror
de nunca chegar a perceber o que é que quero realmente fazer
de nunca me vir a entregar 100% ao que faço
de perder o que já foi
de esquecer
de ver cada dia pior
de agulhas
do mar da Praia Grande, às vezes
da Estrada da Pena à noite, sozinha no carro
de trovoada
de voltar para Lisboa daqui a dois dias e ver que está tudo igual. E eu também.


domingo, outubro 21, 2007

ULTIMOS DIAS
Está muito incongruente, este meu blog.

terça-feira, outubro 16, 2007

Maison de Portugal

Depois de chegar a uma certeza e de uma noite sem conseguir dormir sobre essa certeza vem sempre um dia difícil. E se esse dia acabar por derrubar essa certeza, posso esperar por uma noite impossível. Acabo de descobrir o que procurava em Paris. Mas não em mim e não na minha vida. Viver no 8éme nao é um estrondo, como eu pensava. Acabei de descobrir o que é Erasmus, mas não o meu erasmus. E acabei de descobrir que tudo o que escrevi aqui antes não passou de ilusão: a janela de oportunidades que se abriu em Maio acabou por ser a mais castradora das experiências. E quase desisti de tudo sem saber o que era tudo. E agora voltei à incerteza.
Já sei que quero viver em Paris mas não sozinha em Paris, mas não sei como vou fazer para conseguir isso. Já sei que preciso de um trabalho, mas este não me serve, quero outro. E o mestrado é secundário, há muito mais para viver aqui, e a falta de 18 créditos não passa de um pormenor. Mais um ano? O que é isso, comparado com 3 meses aqui? E descobri tudo isto em 50 minutos numa maison de portugal na cité universitaire, com não sei quantos portugueses que vieram cá fazer o mesmo que eu, mas que encontraram uma vida muito diferente da que eu tive. Tenho de ficar. Tenho de encontrar o meu lugar em Paris, afinal o que eu imaginei existe e não é assim tão inalcançável. Um esforço, não me parece que seja muito mais do que isso. Tenho de me encontrar, tenho de perceber o que quero (ou antes: tenho de perceber como chegar ao que quero). Obrigada J. Paris por outros olhos.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Rue Clément Marot

1 mês de Paris.
A verdade? Não sei o que escrever.

terça-feira, outubro 09, 2007

Russie Blanche

Uma manhã. Menos, uma hora dessa manhã. É o que basta para decidir o fim de tudo. Um metro de pessoa. Meses de preparação, noites sem dormir a antecipar tudo. Para afinal nada ser como se pensa, e tudo escorre devagar enquanto subo cinco andares. Fazer malas e voar? Já? Vale a pena esperar mais? Vale a pena procurar noutro lugar? Vale a pena acreditar que vale a pena? Entrego-me muito facilmente. Talvez. Mas não foi fácil, nada aqui foi fácil. Eu não desisto, perder as forças não é desistir. Quando se torna impossível, o que é que se pode fazer? Não depende só de mim, mas estoiro de pensar que depende de uma pessoa que não é uma pessoa. Antinatura. Vais ficar sozinha, minha pequena, tenho muita pena.
- Tout le monde va partir.
- Sauf maman.
Está bem, acredita nisso! Tenho pena de ti, a tua brancura não te vai salvar, porque ela não é pureza, mas doença. Não é inocência, mas dissimulação. A brancura transparente e esverdeada dos vilões. Rezo por ti, não ficas na minha vida depois de me ir embora, mas ficas na tua. E ninguém aguenta alguém assim, nem tu mesma. Acima de tudo, tu mesma.
E não sei quem és na vida para escrever sobre ti. Mas tens o poder de destruir sonhos.