Uma dor que não é dor - é vazio.
Vazio outra vez, estou de volta a qualquer coisa que não conheço. Mas este vazio é diferente, já reparaste? Vem cheio de um espaço que tem espaço lá dentro. E se tento perceber, fora do tempo que não tenho, de quem é este espaço, descubro que o espaço é só meu, de ninguém mais. Não conforta. Não aquece. Não tem um abraço nem um ombro onde me posso encaixar. Não me protege, nem de mim, nem da vida que parece que tenho agora, nem do frio de que me vesti. Comecei com "Uma dor", mas não será antes uma não-dor-nem-prazer-nem-nada-que-preencha?
"Vives para ti, estás a construir o teu caminho". Não sei se quero construir um caminho que vou fazer sozinha, talvez prefira não conhecer as curvas, pode ser que numa delas estejas tu à minha espera, mão estendida para me ajudar a subir. Tu, quem? Pois...
Tenho uns sapatos novos de princesa. Mas as princesas também têm bolhas nos pés, e também sofrem ao fim do dia por causa dos saltos altos, principalmente as que vão de metro para o emprego. Porque é uma dessas que quero ser, acho eu, só não quero é usar saltos altos porque me obrigam. Só porque sabem que magoa. Eu não sei porquê, mas julgo as pessoas pelos sapatos. Desculpem as pessoas que não sabem calçar-se, é uma espécie de compulsão, acho eu. Os meus sapatos definem-me (já não são só 33 pares).
Faço bolachas de aveia porque fazem bem à cabeça, mas enquanto espero que saiam do forno e a casa cheira a massa de bolachas, não consigo pensar noutra coisa. Posso fazer bolachas para ti, se quiseres, acho que ias gostar. Não vale a pena, não ias valorizar o gesto, ias achar infantil e desajustado, não estou para me sujeitar, desculpa. Tento outras maneiras de chegar a ti, e sei que nenhuma delas é francamente verdadeira, em nenhum desses meus planos sou verdadeiramente eu.
Aproveito a tarde sem sol para ir ao cinema sozinha, "estar comigo".... Mais ainda? Mais comigo? Começo a fartar-me da minha companhia, é mais suportável quando posso partilhá-la com alguém. Ninguém me conhece como eu, é pena. É pena. Oito horas por dia não chegam para me conhecerem, e se não tenho tempo para mais, a culpa não é minha. Agora que os meus dias se definem numa rotina 24/7, o meu mundo ficou para trás, não pertenço aos meus espaços, se pensar bem, não são meus (quero que sejam?). Acho que o meu Mundo não está sequer neste hemisfério. Não sei, não sei.
2 comentários:
Vera Vera :) o mundo dos que sonham, dos que realmente amam os seus sonhos, é tão simples para cada um de nós. Como um como o "cheiro da massa das bolachas na casa" :)
Mas... na realidade complicamos tudo! Porque somos tão certos no que sonhamos, que não estamos disponíveis para qualquer outra coisa.
Reconheço-me nas tuas palavras, no meu caminho solitário. Melhor!, no meu caminho que quero que assim seja, mesmo que por vezes me irrite essa condição que no fundo eu próprio escolho todos os dias.
Um coração apaixonado pelo mundo, pelas pessoas, os cheiros, as cores. Tu, eu, outras pessoas. Estamos apenas disponíveis para aquilo que queremos/sonhamos e só na altura que julgamos ideal (quase nunca, porque não é perfeito). Somos e sentimo-nos únicos, e é isso que nos faz únicos sem par.
Há que ter fé nos sapatos de cristal, mas ter consciência das bolhas ;)
PS.- para a próxima vamos os dois sozinhos juntos ao cinema, boa? :)
tens razão! tens escrito :) identifico-me TANTO com este post, incrivel. Os sapatos DEFINEM uma pessoa, tira-se logo a fotografia só por olhar meio segundo para os sapatos que está a usar. somos pimas, temos que ter coisas parecidas! não pertencemos a este mundo, espera-nos um Mundo que é bom d+ e começa por C!!! beijos querida Vera,
Ana
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