quinta-feira, janeiro 01, 2009

125g por dia

Olá, Bom ano.

Não gosto especialmente da ideia de escrever posts de Ano Novo, mas gosto da ideia de escrever, e se é para aí que estou inclinada, há que aproveitar!

O António RA disse-me: Ano Novo Vida Igual. Talvez esteja certo, ok. Mas Ano Novo, Ano Novo. E a verdade é que temos pela frente 365 dias novinhos em folha, por estrear, ainda brilham. E o que é que se faz com 365 dias novos por estrear? Vive-se; usam-se.

Podemos facilmente usá-los todos de uma vez; como se fossem Smarties: são imensos, iguaizinhos e sabem todos ao mesmo, por isso é só abrir a boca (o coração) e deixá-los escorregar. Acabam-se num instantinho. Chegamos ao fim da caixa (do ano) com a sensação de que podíamos ter feito melhor. Podíamos ter parado para ver as cores dos Smarties, comer cada um de maneira diferente, nuns tirar a capinha de açúcar e comer o chocolate sozinho; noutros, partir ao meio longitudinalmente e comer uma metade de cada vez. Basicamente, podíamos ter pegado em cada um e pensar minimamente no que fazer com ele. Olhar à volta e ver que podíamos tê-los dividido com quem ali estava, e assim iria saber muito melhor, e não enjoar tanto no fim.

Também podemos pensar num ano de 365 dias como numa tablette de chocolate preto Cote D'Or. É preciso olhar para ela antes de nos atirarmos de cabeça. Perceber qual é a percentagem de cacau, porque há uns muito fortes: avaliar se estamos com estômago para tamanha potência. Com calma, podemos abrir o papel: não vale a pena estragar a prata de dentro, às vezes pode dar jeito. Depois disso, partimos a primeira fila e daí, o primeiro quadradinho de chocolate. Quando começamos a saborear um quadrado de chocolate preto com 70% de cacau, não podemos estar a pensar já no próximo. É importante SABOREAR. Sentir a força do cacau, deixar que o chocolate perca tempo na nossa boca. Podemos perfeitamente ler um capítulo inteiro de um livro durante um quadradinho de chocolate. Também podemos pensar em cada um dos 365 dias de 2009 como um espaço para nos lermos a nós mesmos, dar a cada dia uns minutos para pensar no que foi e no que vai ser o próximo, onde é que cada dia nos liga a Nós e a Alguma coisa mais, o que é que demos e o que conseguiríamos melhor. O segundo quadrado da fila que escolhemos podemos até passar às pessoas que lêem livros ao nosso lado: deixá-las também demorar-se no nosso chocolate (o dia). Aprender com elas que o cacau é extraído de determinada planta, em certa estação do ano num país longínquo. Ou o que quer que seja da experiência que tenham de chocolates.

Parte de nós. Somos os únicos a decidir se queremos engolir os Smarties e esperar impavidamente pela próxima caixa, ou se queremos provar um chocolate mais forte e, por isso, mais difícil, mas do qual podemos mesmo guardar metade para mais tarde, com mais calma ou outras pessoas, outro livro ou outra luz.

Somos os únicos a decidir se os próximos 365 dias vão ser um passar de tempo simplesmente, ou se vamos aprender alguma coisa com eles, dividi-los com alguém(s), pensar e saborear cada dia, por mais difícil que seja - saber tirar o melhor proveito de 70% de cacau - e saber Agradecer.

Tenho o melhor feeling para este ano, começou da melhor maneira, da mais consolidada.

Bom ano!



§Dedico este post à Rita C.§

3 comentários:

António disse...

"Ano novo

Ficção de que começa alguma cousa!
Nada começa: Tudo continua.
Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.

Curvas do rio escondem só movimento
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento.

Fernando Pessoa"

Anónimo disse...

Gostei muito esta comparação com os chocolates!;)
Acho que se deve alternar entre os dois. Os smarties para umas ocasiões e o Cote D´or para outras - onde seja necessário parar um bocadinho para pensar e reflectir como é que está tudo a correr - para podermos "saborear" melhor cada momento, porque como diz o Francisco Campos - só consegues aproveitar cada momento "... só quando se põe em cada momento, toda a alegria de uma entrega verdadeira por amor naquilo que se faz" Um grande beijinho
Rita Cruzeiro

Diogo disse...

Já devia saber por agora que as surpresas, coincidências e coisas que tal são de dificil previsão. Agora, ao ler um post destes tão saborosos que nos falam de vicios (sou viciado em chocolate negro, especialmente o cote D'or)e de prazer, da importância de saborear e de apreciar o momento, só posso dizer que ainda nem sequer abrimos o papel...
Beijo*