Há um sítio aqui perto de casa onde o vento tem um percurso especial. Parece que foge, mas volta sempre ao mesmo ponto. É diferente do normal, este vento. Cruza uns arcos e brinca com as folhas que por ali andam, não conseguem estabelecer-se num bocadinho de chão: assim que se separam umas das outras para respirar melhor, vem este vento-criança e junta-as todas outra vez em montes, corre no meio delas a dar pontapés no vazio para vê-las voar. No corredor estreito que vai de um espaço amplo ao outro, esse vento tem quase vida e vontade. Eu gosto de ficar ali com ele um bocadinho. Entra-me nos ouvidos - já falei aqui do quanto gosto disso. É bom antes de ir dormir, às vezes acontece que consigo mesmo ficar de cabeça vazia - só com vento - e aí dá para dormir sossegada. Eu gosto muito de vento, de facto. Gosto das ruazinhas com vento. Gosto do meu cabelo com vento. Gosto de estar parada com vento. E de andar com vento. E da praia com vento - e uma camisola. E gosto do vento do lado de fora das janelas.
Eu gosto destas coisas.
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