Acontece-me várias vezes, se calhar até vezes de mais, ler ou ouvir ou pensar numa palavra e ter de a dizer em voz alta. Não vejo isto como uma compulsão, mas qualquer coisa em mim obriga-me a pronunciar a palavra para perceber o sentido. Ou só para a ouvir, às vezes soa bem. E não são necessariamente palavras estranhas ou pouco habituais, mas acontece-me às vezes. Não é uma compulsão, mas nunca é bem visto falar sozinha. Dou por mim muitas vezes a falar sozinha, coitadas das pessoas que se cruzam comigo e me vêem a contar-me histórias. Tenho uma relação com as palavras, as faladas principalmente - as escritas são um meio, mas também as adoro. Elas nunca me soam muito bem quando são ditas por mim e ouvidas por outros, mas se mais ninguém me ouve, gosto. Gosto de me adaptar aos estilos que leio, e não é raro ler um livro, como o que estou a ler agora, muito discursivo mas nada simples, e acomodar-me a esse estilo. Digo o que leio mesmo nas coisas mais banais. Há quem se assuste.
Num dia de sol como o de hoje, e ainda por cima num dia tão fora da rotina, o livro não me basta. Demoro sempre mais a ler nos dias de sol, porque tenho de olhar pela janela e ver o sol e pensar nisso tudo. É melhor do que quando leio de enfiada, em que às vezes parece que salto parágrafos, mas quando volto atrás já estou a repetir. Preciso das palavras, envolvo-me nelas, saio deste mundo para outro e outro qualquer, e vou sempre sozinha, tem piada, é sempre sozinha que mergulho nos meus livros e é sempre sozinha que olho de fora para o que deixei e para o que leio. Muitas vezes nem dou pelo tempo que demoro a fazer catorze estações, quando dou por mim já passaram 27 minutos. E esqueço-me, quase que é outro dia ou outra dimensão ou tenho coisas para fazer de que já me esqueci. E o caminho até casa é sempre mais demorado e comprido, ou sou eu que sou mais lenta porque ainda estou a tentar assimilar. Mas são bons estes dias de sol. Em que apetece sair do comboio e andar por ali, encontrar pessoas e ver se elas também falam sozinhas ou se sou só eu que encarno personagens que às vezes sou eu mesma.
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