Pensas demais. Não estás a viver a tua vida, estás a pensá-la. Racionalizas cada passo que dás, qual é a espontaneidade? Pensas demais. Qual é o mal se é pouco intenso? Qual é o mal se não tens tempo? Constróis uma estrada que não sabes se é a tua e sentes que, pedra sobre pedra, és só tu que a percorres. A estrada é tua. A vida é tua. Quem queres contigo? Estás a pensar sobre isso? Pensas demais. A culpa é tua se acordas às 5h30 sem sono. A culpa é tua, porque não te impedes de pensar e repara como pensas sempre a pior perspectiva. As coisas correm bem, és tu quem vive o momento certo, só não encontraste ainda quem constrói estradas paralelas à tua. Eles existem e olham para ti com a condescendência de quem sabe o que pensas, conhecem essa cara que fazes a uma hora certa da manhã e sabem que há um momento em que, sem sentires que acomodaste, esta vida te faz feliz. O teu problema é que, enquanto não se dá a transformação, vais continuar a pensar e pensar e pensar e nunca vais conseguir ver esse assentar como uma não-acomodação. E terás de mudar. Sabes isso, não sabes? Mas estás tão ancorada a um mundo - farás realmente parte dele? - de adaptação fácil e redes que te prendem irresistivelmente, porque preferes, não tu especificamente mas essa raça que conheces, um dia atrás do outro, um arrastar biográfico sem grande esforço, de dias que correm como gotas de água presas num fio. Lembras-te? Também a esse mundo foste incapaz de uma entrega, vê o teu próprio desconforto numa cadeira, já não tinhas posição. Lembras-te? Mudas a cada esquina e o que queres é tanto e tudo, que não andas em frente, a tua vida é uma sucessão de curva-contra-curvas. Qual é o problema!? É que o teu tempo é o mesmo de toda a gente, mas demoras muito mais a chegar a algum lado.
E o esforço é muito maior.
Sem comentários:
Enviar um comentário