sábado, maio 10, 2008

É nesta estrada que me encontras, sabes disso e tomas rumos diferentes. Afastas o teu caminho do meu, não te censuro. Aceitar. Não é fácil, mas aprendo a aceitar. Aceito os dias de chuva como aceito que o dia tem 24 horas, menos do que as que preciso. Aceito que não somos iguais, tu não és eu e eu não sou forte como tu. Ou não sou como tu, simplesmente. Aceito que o amor não é fácil, de dar nem de receber e, menos ainda, de aceitar que não exista. Sou o que fazem de mim as tuas distâncias, os teus regressos intensos e, já sei, não tão sentidos como gostaria. Sou a espera por esse teu cheiro que fica semanas depois de ires, partículas da tua pele que não saem da minha - e eu não quero. Vais e voltas, voltas sempre. Mas nunca sei quando ou por quanto tempo ou porquê. Nunca sei por que voltas, uma tão presente ausência tem botão on-off? Eu não tenho. Não me esqueço de ti e não me esqueço de nós, apesar de tentar. Não sei o que é Nós, sei que é absurdo pensar assim, não me percebes mas achas que sim. Não, não percebes. Não fazes uma ideia do que é ser eu, não sabes o que sinto nem porquê, e se tento explicar, tens mil e uma coisas a dizer sobre isso. Não consigo relaxar. Não me chega um banho de imersão a escaldar com vinho tinto e um cigarro - não estás, por isso não conta. É nos meus livros que te procuro - e chego a encontrar. É nas folhas dos passeios e na chuva em telhado de vidro que me diz que este sol não é quente e este dia não acaba assim tão facilmente. Porque são horas que se arrastam numa caixa de fósforos e beatas no cinzeiro, o chão de madeira a estalar ao fim do dia e a cadela que se espreguiça na relva. Não te procuro mas não sei dizer-te que não. Tens esse estranho poder sobre mim, e cada vez que penso que para a próxima vez não vou ceder, chegas devagarinho, em bicos dos pés para não me acordares e enroscas-te em mim, tiras-me o cabelo da cara e respiras, respiras sempre, acordas-me de propósito com o ar que te enche os pulmões e volta para a almofada. E se acordo e me sabe bem ter-te, sei que já não descanso porque não deixo de pensar que agora estás mas és volátil, vais embora antes que tenha tempo de esticar os músculos e abraçar-te. Às vezes penso se serás real, se não és só um qualquer trick of the mind, mais uma das personagens da minha imaginação incansável. Vais dando notícias na distância, é isso que te liga à realidade, só assim sei que existes mesmo quando não existes comigo. Love me or leave me.

2 comentários:

Vida disse...

Lindo.. ;)

T disse...

Eu não teria conseguido escrever coisa mais bonita!*