quando é assim apetece-me entregar-me e deixar-me levar. não tenho forças para lutar contra a corrente.
e não é um descanso dos outros dias: é o peso do silêncio deles.
domingo, dezembro 20, 2009
sábado, dezembro 19, 2009
A vida muda. Quando um Sábado de sol começa como o de hoje, então estou especialmente virada para pensar nestas coisas de mudanças de vida. Dá-me saudades. Não de nada muito concreto, mas saudades de um tempo qualquer em que os Sábados com sol serviam para fazer alguma coisa com todos, e os Sábados começavam de facto com todos. Isto é mais um traço de personalidade do que o acordar de hoje. É dia de café em caneca grande, um cigarro na varanda ao sol e sair de casa para ir andar por aí (não tão aleatoriamente como isso). Sou uma pessoa de hábitos, é tudo muito cíclico* - normalmente, pelo dia da semana em que estou, à vezes em ciclos não tão curtos, sei como é que vou acordar e como é que me afectam as coisas, como esta luz, por exemplo. Hoje é um dia muito bom para me deitar na areia outra vez. Vá, já chega. Tenho 17 dias inteiros pela frente.
* Cf. o histórico deste blog.
quinta-feira, dezembro 10, 2009
sábado, novembro 28, 2009
Tempo: sem
E eu creio que se um de nós fosse martirizado, não pela Fé, que já tem bastantes mártires, mas pela Caridade, se um de nós subisse à forca ou à fogueira, em lugar, ou mesmo ao lado, da mais repugnante vítima, haveria de encontrar-se então sob novos céus, sobre uma nova terra. O pior velhaco ou o mais pernicioso herético nunca será tão inferior a mim como eu o sou em relação a Jesus Cristo.
In A obra ao negro, Marguerite Yourcenar, 1985.
segunda-feira, novembro 16, 2009
As próprias ideias deslizavam. O acto de pensar importava-lhe agora mais do que os duvidosos produtos do pensamento em si. Examinava-se a pensar, tal como se contasse, com o dedo sobre o pulso, as pulsações da artéria radial, ou, sob as costelas, o vaivém da respiração. Toda a vida se espantara com essa faculdade que as ideias têm de se aglomerarem friamente como cristais, formando estranhas figuras vãs; ou crescerem como tumores devorando a carne que os concebeu; ou assumirem monstruosamente certos contornos da pessoa humana, à maneira dessas massas inertes que algumas mulheres dão à luz e que, em suma, não são mais do que um sonho da matéria. Uma boa parte dos produtos do espírito não passava também de disformes sombras lunares. Outras noções, mais claras e nítidas, como que fabricadas por um mestre artesão, eram, porém, como aqueles objectos que, à distância, iludem; imensamente admiráveis eram os ângulos e arestas; e todavia não passavam de grades aonde o entendimento a si mesmo se aprisiona, abstractas ferragens que a ferrugem da falsidade não tardaria a carcomir. Tremia-se, por momentos, perante a iminente transmutação: um pouco de ouro parecia brotar no crisol do cérebro humano; não se conseguia, contudo, mais do que uma equivalência; da mesma forma que, naquelas experiências grosseiras com que os alquimistas da corte tentam provar aos príncipes seus clientes que algo descobriram, não era o outro, no fundo da retorta, senão o de um banal ducado que, depois de correr de mão em mão, ali foi posto pelo alquimista antes da fervura. Tal como os homens, morriam as noções: vira, no decurso de meio século, várias gerações de ideias desfazerem-se em pó.
Sentia-se penetrar por uma metáfora mais fluida, produto de antigas viagens marítimas. Este filósofo que procurava abarcar no seu todo o entendimento humano, via, subjacente a ele, uma massa submetida a curvas calculáveis, estriada por correntes cujo mapa seria fácil de traçar, de fundas pregas cavada, pelas massas de ar e a pesada inércia das águas. Acontecia, com estas figuras assumidas pelo espírito, o mesmo que com aquelas formas nascidas das águas indiferenciadas, ora assediando-se ora revezando-se, à superfície do pego; cada um dos conceitos acabava por se desfazer no seu próprio contrário, da mesma guisa que duas vagas, ao tocarem-se, se aniquilam numa só e mesma branca espuma. Zenão ficava-se a ver fugir essa vaga desordenada, que consigo levava, como destroços, aquelas poucas verdades sensíveis de que julgamos estar seguros. Muitas vezes lhe pareceu entrever, por sob o fluxo, uma qualquer substância imóvel, a qual estaria para as ideias como as ideias estão para as palavras. Nada, porém, provava que tal substrato fosse a camada última, nem que uma tal fixidez não escondesse um movimento demasiado violento para o humano intelecto. A partir do momento em que renunciara a confiar de viva voz tudo o que pensava, ou a consigná-lo por escrito sobre a banca dos livreiros, essa privação obrigou-o a descer mais fundo que nunca, em busca de puros conceitos. Renunciara agora, temporariamente, a todos os conceitos em prol de um exame mais profundo; como quem retém a respiração, retinha ele o espírito, a fim de melhor ouvir aquele barulho de rodas a girar tão rapidamente que uma pessoa nem se apercebe de que rodam.
Sentia-se penetrar por uma metáfora mais fluida, produto de antigas viagens marítimas. Este filósofo que procurava abarcar no seu todo o entendimento humano, via, subjacente a ele, uma massa submetida a curvas calculáveis, estriada por correntes cujo mapa seria fácil de traçar, de fundas pregas cavada, pelas massas de ar e a pesada inércia das águas. Acontecia, com estas figuras assumidas pelo espírito, o mesmo que com aquelas formas nascidas das águas indiferenciadas, ora assediando-se ora revezando-se, à superfície do pego; cada um dos conceitos acabava por se desfazer no seu próprio contrário, da mesma guisa que duas vagas, ao tocarem-se, se aniquilam numa só e mesma branca espuma. Zenão ficava-se a ver fugir essa vaga desordenada, que consigo levava, como destroços, aquelas poucas verdades sensíveis de que julgamos estar seguros. Muitas vezes lhe pareceu entrever, por sob o fluxo, uma qualquer substância imóvel, a qual estaria para as ideias como as ideias estão para as palavras. Nada, porém, provava que tal substrato fosse a camada última, nem que uma tal fixidez não escondesse um movimento demasiado violento para o humano intelecto. A partir do momento em que renunciara a confiar de viva voz tudo o que pensava, ou a consigná-lo por escrito sobre a banca dos livreiros, essa privação obrigou-o a descer mais fundo que nunca, em busca de puros conceitos. Renunciara agora, temporariamente, a todos os conceitos em prol de um exame mais profundo; como quem retém a respiração, retinha ele o espírito, a fim de melhor ouvir aquele barulho de rodas a girar tão rapidamente que uma pessoa nem se apercebe de que rodam.
In A Obra ao Negro. Marguerite Yourcenar, 1985. Pp. 176-178
sexta-feira, novembro 06, 2009
segunda-feira, outubro 19, 2009
terça-feira, outubro 13, 2009
Hoje é um daqueles dias em que me apetece fazer alguma coisa mas eu não sei o que é.
(Já descobri: Preciso de Urbanidade).
domingo, outubro 11, 2009
Vento II
Há um sítio aqui perto de casa onde o vento tem um percurso especial. Parece que foge, mas volta sempre ao mesmo ponto. É diferente do normal, este vento. Cruza uns arcos e brinca com as folhas que por ali andam, não conseguem estabelecer-se num bocadinho de chão: assim que se separam umas das outras para respirar melhor, vem este vento-criança e junta-as todas outra vez em montes, corre no meio delas a dar pontapés no vazio para vê-las voar. No corredor estreito que vai de um espaço amplo ao outro, esse vento tem quase vida e vontade. Eu gosto de ficar ali com ele um bocadinho. Entra-me nos ouvidos - já falei aqui do quanto gosto disso. É bom antes de ir dormir, às vezes acontece que consigo mesmo ficar de cabeça vazia - só com vento - e aí dá para dormir sossegada. Eu gosto muito de vento, de facto. Gosto das ruazinhas com vento. Gosto do meu cabelo com vento. Gosto de estar parada com vento. E de andar com vento. E da praia com vento - e uma camisola. E gosto do vento do lado de fora das janelas.
Eu gosto destas coisas.
domingo, outubro 04, 2009
quinta-feira, setembro 24, 2009
terça-feira, setembro 22, 2009
sábado, setembro 19, 2009
terça-feira, setembro 15, 2009
Duas Palavras Preferidas
Canvas*
Maintenantª
* Tela, em Inglês
ªAgora, em Francês
É meramente fonológico.
terça-feira, setembro 08, 2009
Querido Avô
O que hoje começa é por si - e, por isso, para si.
Descobri imensas coisas desde então que nem imaginei serem possíveis, acho que ia ficar orgulhoso. Quem mais sabe disse: Você vai ser quem mais sabe sobre esse assunto. E quem mais sabe deu-me de presente o saber que não tenho de perder uma para evitar a outra. Não achava possível, mas é, imagine!
Vai estar comigo nestes tempos, mais ainda do que normalmente, vai ajudar-me a ver o lado mais Humano desta Ciência. Sim, acho que é isso.
É por si, Avô. Obrigada.
Vera
segunda-feira, setembro 07, 2009
Então é o seguinte
é voltar a casa e à vida retemperada e com as convicções reforçadas
é querer que o Caminho se manifeste em tudo de mim
é acreditar que recomeço diariamente e que afinal não é sozinha
é sentir que vou pela estrada certa e que há muito e bom que palmilhar
é encontrar o que traz alegria
é perceber que é mais simples do que eu pensava
é distinguir entre o que quero e o que me apetece
é dar uma oportunidade ao que pensei não querer mais
é isto.
é querer que o Caminho se manifeste em tudo de mim
é acreditar que recomeço diariamente e que afinal não é sozinha
é sentir que vou pela estrada certa e que há muito e bom que palmilhar
é encontrar o que traz alegria
é perceber que é mais simples do que eu pensava
é distinguir entre o que quero e o que me apetece
é dar uma oportunidade ao que pensei não querer mais
é isto.
quinta-feira, junho 25, 2009
O Tempo
Hoje recebi notícias que me deixaram a explodir de contente. Não são minhas, mas são uma alegria, indiscutivelmente.
E depois disso fiquei a pensar nas coisas em que já andava a pensar mas não sabia. Só chamei a minha própria atenção para o facto de já estar a pensar nisso. Sempre, pois.
Porque o que penso todos os dias e digo todos os dias (hoje disse duas vezes a duas pessoas diferentes) é que a minha vida é um espectáculo! Mesmo! A minha vida, os meus dias, a minha casa, o meu trabalho que adoro, o meu curso, de que gosto ainda mais, e tudo o que vejo que está a vir ter comigo agora. Que, na verdade, não vejo, porque se olhar conscientemente para os tempos daqui a uns tempos, não há nada de definido a acontecer, não que nada esteja a acontecer nesse tempo, mas nada que eu possa prever.
Está tudo a acontecer mas tudo para acontecer, e isso é ainda mais maravilhoso, mas muito muito mais assustador, porque se um dia acordo e não me parece ter assim tanto para agradecer (e é inegável que esses dias existem), vou agarrar-me é ao "não posso prever", ao "não tenho nada definido" e ao "e agora?".
É essa a minha principal luta, e a minha força está em ganhar a esses dias.
Notícias como a de hoje dão-me a certeza de que estou realmente a fazer o meu caminho - no sentido de construir o meu caminho - e de que esse caminho é tão bom como este Agora em que estou tão deslumbrada.
Há uma parte de mim que é minúscula, ainda, que abraça todo este encantamento, talvez seja essa parte mais ou menos nova que me tira o outro medo, porque nada mete mais medo do que uma parte minúscula que abraça a vida inteira. E, caramba, tem uma capacidade de multiplicação que pode tornar-se incontrolável, mas que maravilha! E que medo. Enfim (possivelmente, foi só por causa desta parte minúscula que vim aqui escrever isto, acho que me apetecia escrever sobre ela mas não sabia como começar).
Ah, ia-me esquecendo: a minha vida é um espectáculo!
quarta-feira, junho 17, 2009
domingo, junho 14, 2009
sábado, junho 06, 2009
O Bernardo e o Martim
O Bernardo e o Martim iam inventando brincadeiras enquanto a Mãe esperava na fila do supermercado, porque era Sábado e estava imensa gente. A Mãe respondia às perguntas deles com a descontracção de uma mãe de dois filhos, quase três. As pessoas à volta não conseguiam deixar de olhar e ouvir as perguntas daquele miúdo de cinco anos: Oh Mãe, sabe quantas ovelhas são precisas para fazer mil camisolas? Mil! E a Mãe: A sério, Bernardo? Uma ovelha para cada camisola? E o Bernardo hesitava um bocadinho, mas acreditava que a Mãe tinha razão - porque tinha sempre. O outro miúdo, o Martim, olhava distraidamente para as prateleiras cheias de cores mesmo ao pé das caixas do supermercado, mas nem refilava ao primeiro Não! da Mãe. Era muito mais independente do que o irmão mais velho, não fazia tantas perguntas e nem lhe ligava grande coisa. Tinha quase três anos, cabelo cor de palha grosso e óculos. Sempre que o Bernardo se chegava muito para cima dele, devia ser de propósito, dizia: Não me empuuurreees!!! E continuava a brincar sozinho, a falar sozinho, a interpretar todas as personagens das histórias que inventava. Cantava músicas e baloiçava-se nos ferros da caixa, com a Mãe a ver e o irmão a querer fazer o mesmo. - Não me empuuurreees!!! O Bernardo e o Martim não eram parecidos mas estavam vestidos de igual, e tinham dois anos de diferença. E a Mãe ia ter mais um bebé, se calhar uma rapariga, depois temos de ajudar a Mãe e não fazer barulho quando o bebé nascer, senão a Mãe fica cansada e quando fica cansada a Mãe zanga-se.
O Bernardo e o Martim deixaram uma série de senhoras nas caixas do supermercado cheias de vontade de ter filhos.
quarta-feira, maio 13, 2009
Há alguns dias em que me apetecia ter assim um botão de desligar em que só eu é que podia carregar, e podia carregar sempre que quisesse, que ninguém ia saber. Se eu quisesse, podia passar o dia inteiro on-off-on-off etc, conforme me apetecesse.
Sempre que eu quisesse, ou que precisasse, gostava de poder desligar o meu coração, assim só um bocadinho, porque às vezes parece que ele está vazio e perdido, e depois ligá-lo outra vez quando há coisas que querem entrar e não conseguem - e depois quando entram, ocupam o espaço todo do coração e todo o espaço ao lado dele, e eu sinto-me pequenina demais para tantas coisas, parece que não cabem.
Nestes dias de ultimamente, em que quando saio de casa não sei se hei-de usar botas da chuva ou óculos de sol, em que chove ao mesmo tempo que faz sol e em que a luz fere os olhos mas nunca é suficiente, dava mesmo jeito esse botão que estou a pensar inventar. É que há dias em que essa chuva e esse sol que não se decidem entram dentro desse coração e trazem as coisas com eles, e eu não consigo decidir se aperto o casaco ou se prendo a camisola à cintura.
Há assim uns dias em que parece que o meu coração se transforma em pulmões e respira, ora fica muito muito pequeno e dói um bocadinho, ora fica cheio cheio e também dói, mas de outra maneira.
Quando é assim, gostava de poder sentar-me na bordinha do passeio, ouvir a música que inesperadamente está por ali, não pensar em nada nem sentir nada nem querer nada nem precisar de nada - como fiz hoje ali em cima.
quarta-feira, abril 15, 2009
Querido Deus
Hoje, de presente de anos, gostava de ter Sol. Um sol quentinho para poder usar o vestido de alças e estar ainda mais contente pelos 24. Sff.
Obrigada, e obrigada por hoje
Vera
Obrigada, e obrigada por hoje
Vera
terça-feira, abril 07, 2009
Sim, eu sei que a culpa é minha.
Estou presa ao que acredito ser a vida e não consigo ver para lá disso?
terça-feira, março 24, 2009
Pois, não sei. O que eu acho é que invento umas coisas à volta de outras coisas, não sei se é para me fazer de interessante ou se é mesmo assim e pronto. Mas complico facilmente o que nada tem de complicado, ou se tem não me envolve ou não me afecta - não?
Faço sempre uns desenhos mais ou menos abstractos e mais ou menos românticos, quase dramáticos e catastróficos à volta de um ponto muito pequeno. E o que acontece depois é que, quando finalmente consigo ver com alguma clareza o que foi claro o tempo todo - menos para mim - percebo que fui mais ou menos exagerada, ingénua e sinto-me parva, sinto que o mundo inteiro olha para mim e me vê quase pedante, porque dramatizei e envolvi-me num enredo que não existia. A seguir passo às explicações, que só vêm complicar ainda mais a minha frágil posição de miúda com carácter novelesco - podias ser guinista, miúda, escreverias uns bons diálogos, pega neles e passa-os para o papel, logo se vê no que dá.
domingo, março 22, 2009
quarta-feira, março 18, 2009
Decisão
Chega de escuro, a partir de agora é luz. Já não chove - por agora - e há sol todos os dias, brindo a isso! Esta é a minha manifestação. Tenho medo do escuro, por isso não poderia fazer mais sentido. Sol.
terça-feira, março 10, 2009
Herança
Depois disto tudo, entro num ritmo diferente - não novo, só diferente - dos dois dias anteriores.
Deixo-me embebedar num verde e num espaço que redescubro em cada semana, em cada dia, até. Não percebo se é uma espécie de bálsamo, uma espécie de... mood raiser... parece que é só ligar a luz e a luz volta, como é que me explico que possa passar em menos de um segundo de uma coisa a outra é que já não sei. Sim, é a luz e o verde, e o privilégio deixado por quem tão bem sabia que era só ligar o interruptor... Podíamos ter falado tanto sobre isto. É que com o privilégio numas coisas também ficou o medo noutras, e a espectacularidade é a outra face: tenho dois dias para decidir se vale a pena perder uma para evitar a outra - memória curta como sintoma? Privilégio, sim, posso começar por aí. Há alguma coisa de especial na lente que me foi deixada em herança e que me permite ver a outra herança, a física, como um Dom, como o Milagre. Até que ponto é que posso escolher o Dom e manter a lente - o filtro? Uma perda de energia tão forte tem de ser compensada com um descanso - Vera, acorda, não há descanso nessa pausa: lembra-te como não dormiste, mesmo querendo. O gasto de energia é imenso e invertido, não parece?
Mesmo tudo isto, esta confusão e ondulação, posso considerar privilégios, se souber gerir. Mas a definição é: in-gerível. É disso que gosto em mim. Está sol e calor e apetece-me submergir uns minutos. Só para lavar um bocadinho estas ideias confusas e poder entrar no que me é permitido pelo privilégio. O meu legado é quase só genético. Mas não só, e essa é a subtil marca de água que me liga e desliga. Nunca tinha pensado nisto desta maneira, mas gosto, sim gosto. As minhas manifestações são diferentes das suas, ou talvez nem tanto, eu tenho um lado subterrâneo bem mais subterrâneo que o seu, mas o espaço aberto é igualmente manifesto. E por isso, obrigada, a. D. Por tudo. Sim, por tudo.
domingo, março 08, 2009
quarta-feira, março 04, 2009
Apaixonada. Completamente apaixonada. Perdidamente apaixonada. É conquista cada passo, cada dia. Acordar é abrir muito os olhos, esticar os braços e abraçar. Ouvir. Cheirar. Agradecer. Não sei o que espero, mas espero tudo. Quero dar, dar, dar. E receber o pouco - mas o pouco é tanto! Música nas ruas ou na minha cabeça, cantarolar baixinho no caminho para o Metro. Olhar para cima, não para os passeios. Ver janelas onde é possível reinventar toda uma história para esta História. Parece que sou pequena para abarcar tudo. Sou muito mais pequena do que eu, sou menos do que tudo isto. Descubro o Novo a toda a hora, nem sei mais onde cabe tanta coisa. Tenho medo, também, claro que tenho medo, faz parte do que é isto.
Dias e noites e cores e músicas e pessoas e brilho e aprendizagem e nuvens e calor e água e eu e sabores e experiências e ideias e livros e viagens e amor e vinho e danças e abraços e linguagem e vontades e medos e plantas e cozinhados e presentes e janelas e fotografias e ondas e café e sacrifícios e respeito e verde e calma e esperanças e quereres e euforias e espontaneidade e força e mergulhos e frescura e eu e tu.
Estou apaixonada. Perdidamente apaixonada pela minha vida.
domingo, fevereiro 22, 2009
Para: MG.
Está sol na rua lá em baixo. Não há como acordar numa casa onde o sol entra indecentemente pelas janelas. Estes últimos dois dias estiveram cheios de muito mais dias do que toda a semana passada. Andar para cima e para baixo nas ruas com carris e poucos carros, onde os fios do eléctrico cortam o céu azul destes dias de céu azul em triângulos aleatórios. Good morning; Buenos días; Bonjour. Jogo com um falso conhecimento de internacionalizações que não tenho mas gostava. Eles gostam desse jeito desajeitado de miúda decidida, que sabe o que está a fazer, mesmo não sabendo. Refilam, mas acham piada.
Cheira à caneca de café em cima da mesa da cozinha e a musica no Ipod pela casa tem claramente a forma de ondas em propagação. Se ainda fumasse ia pegar nessa caneca e apanhar o sol da varanda e fumar um cigarro, mas vai ter de ficar para outra vida, parece-me.
Tenho tanto em que pensar e tanto que fazer sem pensar no que não me sai da cabeça, há demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo, coisas que não são compatíveis umas com as outras e que me deixam de rastos pela impossibilidade de as cruzar! Já descobri como é que faço para pensar nas coisas separadamente: basta retirar a componente inteligência/cognição/racionalidade para chegar ao ponto emocional a que quero. Como é que faço isso? Jogos no telemóvel. Ou no computador. Daqueles básicos, de encaixe mas sem a mínima estratégia. Ridículo, eu sei. Depois é só tomar alguma atenção ao que flui, mas uma atenção discreta, como uma mãe que espreita da porta do quarto um filho pequeno que brinca sozinho e desempenha em voz alta todas as personagens da brincadeira - para que esses pensamentos não fiquem envergonhados e se mantenham por aí.
Só escrevi este post absolutamente non-sense porque uma pessoa, que possivelmente não existe, me disse para o fazer. Cá está.
terça-feira, janeiro 06, 2009
Léxico
Palavra Nova: PICTÓRICO.
A Palavra não é exactamente nova, mas o uso é. E como diz o J., aprender uma palavra nova é activar um conceito novo, e isso enriquece o discurso porque podemos explicar alguma coisa que até aí não podíamos (ou talvez pudessemos, mas não tão accurately - preciso de encontrar um equivalente em Português que seja tão rico como em Inglês).
Esta palavra nova deu-me o conceito exacto de que estava à procura para explicar o que me acontece quando digo que imagino muito as coisas - imaginar no sentido de criar imagens, to picture.
Ano Novo - Conceito Novo!
Propósitos 2009
Mãe - O Afonso tem de ser mais arrumado!!!
Afonso - Oh Mãe, mas eu não sou um brinquedo, para ser arrumado!
(25 Dezembro 2008: Afonso 3;6)
Afonso - Oh Mãe, mas eu não sou um brinquedo, para ser arrumado!
(25 Dezembro 2008: Afonso 3;6)
quinta-feira, janeiro 01, 2009
125g por dia
Olá, Bom ano.
Não gosto especialmente da ideia de escrever posts de Ano Novo, mas gosto da ideia de escrever, e se é para aí que estou inclinada, há que aproveitar!
O António RA disse-me: Ano Novo Vida Igual. Talvez esteja certo, ok. Mas Ano Novo, Ano Novo. E a verdade é que temos pela frente 365 dias novinhos em folha, por estrear, ainda brilham. E o que é que se faz com 365 dias novos por estrear? Vive-se; usam-se.
Podemos facilmente usá-los todos de uma vez; como se fossem Smarties: são imensos, iguaizinhos e sabem todos ao mesmo, por isso é só abrir a boca (o coração) e deixá-los escorregar. Acabam-se num instantinho. Chegamos ao fim da caixa (do ano) com a sensação de que podíamos ter feito melhor. Podíamos ter parado para ver as cores dos Smarties, comer cada um de maneira diferente, nuns tirar a capinha de açúcar e comer o chocolate sozinho; noutros, partir ao meio longitudinalmente e comer uma metade de cada vez. Basicamente, podíamos ter pegado em cada um e pensar minimamente no que fazer com ele. Olhar à volta e ver que podíamos tê-los dividido com quem ali estava, e assim iria saber muito melhor, e não enjoar tanto no fim.
Também podemos pensar num ano de 365 dias como numa tablette de chocolate preto Cote D'Or. É preciso olhar para ela antes de nos atirarmos de cabeça. Perceber qual é a percentagem de cacau, porque há uns muito fortes: avaliar se estamos com estômago para tamanha potência. Com calma, podemos abrir o papel: não vale a pena estragar a prata de dentro, às vezes pode dar jeito. Depois disso, partimos a primeira fila e daí, o primeiro quadradinho de chocolate. Quando começamos a saborear um quadrado de chocolate preto com 70% de cacau, não podemos estar a pensar já no próximo. É importante SABOREAR. Sentir a força do cacau, deixar que o chocolate perca tempo na nossa boca. Podemos perfeitamente ler um capítulo inteiro de um livro durante um quadradinho de chocolate. Também podemos pensar em cada um dos 365 dias de 2009 como um espaço para nos lermos a nós mesmos, dar a cada dia uns minutos para pensar no que foi e no que vai ser o próximo, onde é que cada dia nos liga a Nós e a Alguma coisa mais, o que é que demos e o que conseguiríamos melhor. O segundo quadrado da fila que escolhemos podemos até passar às pessoas que lêem livros ao nosso lado: deixá-las também demorar-se no nosso chocolate (o dia). Aprender com elas que o cacau é extraído de determinada planta, em certa estação do ano num país longínquo. Ou o que quer que seja da experiência que tenham de chocolates.
Parte de nós. Somos os únicos a decidir se queremos engolir os Smarties e esperar impavidamente pela próxima caixa, ou se queremos provar um chocolate mais forte e, por isso, mais difícil, mas do qual podemos mesmo guardar metade para mais tarde, com mais calma ou outras pessoas, outro livro ou outra luz.
Somos os únicos a decidir se os próximos 365 dias vão ser um passar de tempo simplesmente, ou se vamos aprender alguma coisa com eles, dividi-los com alguém(s), pensar e saborear cada dia, por mais difícil que seja - saber tirar o melhor proveito de 70% de cacau - e saber Agradecer.
Parte de nós. Somos os únicos a decidir se queremos engolir os Smarties e esperar impavidamente pela próxima caixa, ou se queremos provar um chocolate mais forte e, por isso, mais difícil, mas do qual podemos mesmo guardar metade para mais tarde, com mais calma ou outras pessoas, outro livro ou outra luz.
Somos os únicos a decidir se os próximos 365 dias vão ser um passar de tempo simplesmente, ou se vamos aprender alguma coisa com eles, dividi-los com alguém(s), pensar e saborear cada dia, por mais difícil que seja - saber tirar o melhor proveito de 70% de cacau - e saber Agradecer.
Tenho o melhor feeling para este ano, começou da melhor maneira, da mais consolidada.
Bom ano!
§Dedico este post à Rita C.§
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